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Cap. 26

Ilustração com a silhueta em branco de um braço desferindo um soco no rosto da silhueta de homem magro que cai de costas com o golpe.

Sem alternativa, e cada vez mais sem esperanças de escaparem, o padre e a freira assistem enquanto, com voz ofegante e olhos arregalados, o invasor da capela prossegue sua pregação balançando a cabeça e fechando os olhos:

— Violência deve ser evitada, mas, no entanto, faz-se justa e necessária em certos momentos de doutrinação ou mesmo de punição. E você, mulher, merece ser punida por se submeter a uma hierarquia que afasta as pessoas do Espírito Santo e serve apenas para criar e manter privilégios. Uma estrutura corrupta destinada a manipular, induzir e conduzir pessoas apenas para demonstrar poder e influência.

— Como pode ser cúmplice de um sistema em que não é tratada com igualdade perante os homens? — acusa, com o dedo apontando para irmã Bridget.

Voltando ao púlpito, de costas para o padre, ele se apoia, olha para o teto da capela, abaixa a cabeça por alguns instantes, como em oração, e prossegue:

— Para que serve isso? – pergunta exibindo dois Colts Pacemaker. – Que espécie de liturgia em sua igreja necessita desse tipo de ferramentas?

O padre adoraria demonstrar detalhadamente diversas possibilidades de uso das duas armas no corpo daquele espantalho gótico, porém, no momento só lhe resta tentar suportar o interminável monólogo que ecoa pelo altar.

Depositando as armas sobre o púlpito e aparentando já ter descarregado sua indignação e ira divina, o quaker se debruça no móvel, baixa o tom de voz e fala suavemente, aliviado, quase com carinho: — Eu punirei vocês. É minha missão.

O invasor prossegue: — Por mais que viole minha crença e minha fé na não violência, essa é a obra que o Espírito Santo me delegou: purificar pelo batismo de fogo.

Balançando a cabeça negativamente, o homem continua: — Mas saibam que isso não me traz qualquer felicidade, prazer ou satisfação.

Após uma breve pausa, com a voz carregada de resignação, ele conclui enquanto se vira: – Também nunca me trouxe a paz.

— Que pena, então você vai morrer por nada. – diz o padre desferindo um soco que faz dois dentes voarem da boca do, agora atônito, quaker.
 

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